Como a família de Lampião e Maria Bonita guardou em casa por 20 anos os crânios dos reis do cangaço

  • 13/08/2025
(Foto: Reprodução)
Pesquisadores reconstroem crânios de Lampião e Maria Bonita Duas caixas de madeira guardadas de forma provisória em um museu de São Paulo guardam o mais novo capítulo da longa história de Maria Bonita e Lampião. Os fragmentos de um dos casais mais famosos do Brasil deixaram os laboratórios da Faculdade de Medicina da USP depois de três anos e meio de estudos. No começo dos anos 2000, as duas netas do casal foram avisadas de que o cemitério em que os crânios estavam sepultados, em Salvador, poderia passar por mudanças, e os restos mortais corriam risco de se perder. ✅ Clique aqui para se inscrever no canal do g1 SP no WhatsApp “Estavam todos os dois encaixotados. Nós trouxemos na própria caixinha que estava na gaveta e guardamos. E de vez em quando tirava para tomar um sol. Até então a gente não tinha ideia do que fazer”, disse Gleuse Ferreira, de 69 anos, neta do casal e filha de Expedita Ferreira. “Era segredo de família”, lembra Expedita, de 92 anos, única filha de Maria Bonita e Lampião. “Guardava em casa [os crânios], como se guarda uma roupa, como se guarda um sapato”, completou. Crânio reconstruído de Lampião (à esq.) e o de Maria Bonita (à dir.), segundo a USP G. Ceccantini Em setembro de 2021, os dois crânios foram encaminhados ao Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. O grupo de especialistas tentou extrair material genético para comparar com o DNA de parentes, mas não foi possível. Os pesquisadores acreditam que a intensa manipulação e o armazenamento em diferentes soluções para suposta preservação, como querosene e sol, tenham deteriorado qualquer remanescente de material genético viável para a análise. No entanto, não há dúvidas sobre a identidade. “A nossa certeza é muito forte, bem justificada e testada pelas evidências, teorias e provas de que esses crânios constituíram as cabeças que estiveram em exposição no IML Nina Rodrigues, em Salvador, que por sua vez vieram do IML de Maceió, em 1938, e que um dia foram Lampião e Maria Bonita, assassinados em 1938 na Gruta de Angico, na divisa de Sergipe e Alagoas”, afirmou o doutorando e historiador José Guilherme Veras Closs, um dos responsáveis pelo estudo. Crânio de Lampião antes do trabalho de pesquisa da USP M. Okumura O caminho dos crânios Virgulino Ferreira da Silva (1897-1938), eternizado como Lampião, nasceu na comarca de Vila Bela, no estado de Pernambuco. Entrou para o cangaço por volta dos 19 anos, motivado por vingança e desavenças entre famílias. Maria Gomes de Oliveira (1910-1938) nasceu em Malhada da Caiçara, no estado da Bahia. Conhecida por sua relação com Virgulino, tem sua memória enquanto rainha do cangaço. Crânios são estudados pela USP em SP Carlos Henrique Dias/TV Globo A reconstrução foi o primeiro grande trabalho dos pesquisadores. O crânio de Maria Bonita estava mais íntegro, mas o de Lampião chegou como um monte de cacos. “Completamente diferentes. O do meu bisavô era um monte de caquinho, eu lembro que olhei e enxergava, sabe, coco seco? Essa é minha imagem. Era de muito pedacinho de coco seco sem a carne. O dela, não. O dela sempre esteve intacto. O dele, você olhava e não enxergava um crânio”, disse a bisneta Gleuse Ferreira, de 43 anos. Segundo o relatório dos pesquisadores, a história do cangaço, que é marcada por polêmicas e controvérsias, surgiu no Nordeste, no fim do século XIX. Para uns, eram homens que lutavam por justiça social. Para outros, bandidos conhecidos pela violência, por assassinatos e estupros. Trajetória dos crânios de Lampião e Maria Bonita Reprodução O grupo de Lampião foi morto em Angicos, em 28 de julho de 1938. Onze cangaceiros tiveram suas cabeças decepadas, alguns ainda em vida, e colocadas na escadaria de uma igreja, em Piranhas (AL). De 1944 a 1969, em Salvador, as cabeças ficaram expostas no museu do Instituto Médico Legal (IML) Nina Rodrigues. Em 1969, a família conseguiu o direito de sepultar os restos mortais do casal no Cemitério Quinta dos Lázaros, também em Salvador. Em 2002, a guarda dos crânios passou a ser feita por Expedita e Vera Ferreira, em Aracaju (SE), até 2021. O relatório do trabalho de reconstituição detalha a tarefa meticulosa feita pelos especialistas: “O alto grau de fragmentação dos restos esqueletais de Virgulino representou um grande desafio para sua reconstituição". E segue: "Uma vez feita a reconstrução do crânio e do pouco material pós-craniano presente, foi possível observar evidências da decapitação (incluindo danos a base do crânio, às vertebras cervicais e ao osso hioide), assim como de muitas fraturas 'perimortem', decorrentes do tratamento dado brutal a esse indivíduo no período imediatamente anterior e posterior ao óbito. A análise de patologias orais indica uma saúde bucal bastante ruim, com extensa perda de dentes 'antemortem'”. Closs, pós-graduando pelo programa de fisiopatologia experimental da Faculdade de Medicina da USP, destaca que, "para além de herói ou bandido, a gente pode olhar para o ser humano". "Eu acho que o grande lance é: eles são personalidades que chamam atenção, mas nesse momento acho que não mais pelo que permitiu que se tornassem tão grandes, e sim porque eles são seres humanos. O cuidado com o remanescente humano tem que ser igual ao cuidado por ser humano vivo”, afirmou. Futuro museu A bisneta Gleuse afirma que o próximo passo é tirar do papel o plano para um museu com um acervo guardado pela família. “Já tem o terreno, e a gente espera [construir o museu] daqui a três anos. A gente está no desenvolvimento do projeto.” O acervo, segundo Gleuse, é composto por armas, punhal, um cacho de cabelo de Maria Bonita, joias e fotografias. "O Memorial do Cangaço conta com o aval e a curadoria da família Ferreira. A proposta vai além de um museu tradicional: queremos um espaço que seja também um centro de estudos sobre o fenômeno do cangaço, um local onde documentos, objetos, comportamentos e toda a riqueza cultural e histórica desse período sejam pesquisados e preservados. A família tem a expectativa de ceder o acervo que está sob sua guarda, garantindo que o público possa conhecer de perto objetos pessoais, armas e outros bens que pertenceram a Lampião e a Maria Bonita", explicou Alex Daniel, advogado da família de Lampião e Maria Bonita. Parte dos objetos guardados pela família Arquivo pessoal

FONTE: https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2025/08/13/como-a-familia-de-lampiao-e-maria-bonita-guardou-em-casa-por-20-anos-os-cranios-dos-reis-do-cangaco.ghtml


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